Não dizemos: água e pedras. Dizemos: rio. Sabemos que é um ecossistema interdependente e simbiótico, cujos elementos se aprendem e adaptam entre si continuamente, desde sempre. Tocamos a lisura de um seixo e sabemos que esse alisar levou tempo. Da mesma forma, não dizemos: voz e electrónica. Dizemos: Dullmea. Não apenas a voz, mas tudo o que habita a respiração, inundam o labirinto electrónico e geram um organismo uno, indivisível – é o rio. Depois chegam os cardumes de direções imprevisíveis, melodias de prata que serpenteiam hipnotizantes; nas margens, propagam-se lentas e densas as texturas minimalistas; de repente, um golpe na membrana anfíbia do microfone, rompendo a horizontalidade sónica; mais à frente, um pulsar assertivo de nascente. Dullmea tomou o tempo para gerar um ecossistema onde os elementos interagem e os limites entre voz e electrónica se esfumam, como que embebidos de uma natureza ilusionista.

We don't say: water and stones. We say: river. We know that it is an interdependent and symbiotic ecosystem, whose elements have been learning and adapting to each other continuously, since forever. We touch the smoothness of a pebble and we know that this smoothing took time. In the same way, we don't say: voice and electronics. We say: Dullmea. Not just the voice, but everything that inhabits the breath, floods the electronic labyrinth and generates a single, indivisible organism - it's the river. Then come the shoals of unpredictable directions, silver melodies that meander mesmerisingly; on the banks, minimalist textures spread slowly and densely; suddenly, a blow to the amphibious membrane of the microphone, breaking the sonic horizontality; further on, an assertive spring pulse. Dullmea has taken the time to generate an ecosystem where the elements interact and the boundaries between voice and electronics blur, as if soaked in an illusionist nature.

Ficha artística e técnica / Credits:

Música / Music: Dullmea

Desenho e operação de som / Sound design and operation: Ricardo Pinto

Dullmea

Dullmea (Sofia Fernandes) formou-se em música na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo. Em 2016, lançou o álbum de estreia Keter, calorosamente recebido pela crítica. Desde então, tem desenvolvido o seu universo através de um dispositivo eletrónico personalizado que usa como extensão da voz, incorporando todos estes elementos como um único instrumento, improvisando sem recorrer a música pré-gravada. Lançou Hemisphaeria, [dʊl’mjə],̯ Orduak, Lloc Comú e Ñe'ẽsẽ, trabalhos editados, apresentados e promovidos com o apoio da República Portuguesa - Cultura / Direção-Geral das Artes, da Fundação GDA, Arte Institute e Antena 2. Entre outros, Dullmea apresentou-se ao vivo em Nijmegen, Eindhoven (Países Baixos); Viena (Áustria), Turim (Itália), Lisboa, Porto, Vigo, Barcelona – LEM Festival (Espanha); São Paulo – MAC (Brasil; Berlim (Alemanha); Copenhaga (Dinamarca); Milton Keynes – exposição “Obedience and Defiance” de Paula Rego (Reino Unido).

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Dullmea @ Festival Sinsal, Vigo

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